A Bout de Souffle - de Jean Luc Godard, 1959
com: JEAN-PAUL BELMONDO, JEAN SEBERG, DANIEL BOULANGER
JEAN-PIERRE MELVILLE, HENRY-JACQUES HUET, VAN DOUDEO
Argumento e Diálogos: JEAN-LUC GODARD (segundo a história original de François Truffaut)
Fotografia: RAOUL COUTARD
Música: MARTIAL SOLAL
Conselheiro Técnico: CLAUDE CHABROL
Som: JACQUES MAUMONT
Montagem: CÉCILE DECUGIS
Produção: GEORGES BEAUREGARD; SNC; IMPERIA
O filme
“Je ne sais pas!”Porque tudo o que o filme representa, tudo o que filme traz, é revolucionário. E nunca se olha da mesma forma para um filme na altura do seu lançamento e quarenta e cinco anos depois. Se A Bout de Soufle é um tratado sobre liberdade, sobre o amor, sobre a irreverência humana e sobre Paris – e essencialmente um tratado sobre a Paris que ninguém conhecia – na época, o filme era muito mais do que isso. Era um marco histórico. Era um grito explosivo, um assinalar definitivo da presença da Nouvelle Vague no mundo do cinema. Era o afirmar do anti-heroi, das heroínas traiçoeiras e hesitantes. Era a apologia dos espaços abertos, da luz natural, dos pequenos pormenores do dia a dia. Era um verdadeiro grito de liberdade do cinema.
Há poesia na forma como ele apresenta Belmondo, nos primeiros cinco minutos mais trepidantes da história do cinema. Há garra, emoção, no mesmo plano onde as personagens descansam sobre uma cama e se perguntam sobre a sua própria existência.
Há janelas abertas, sempre a impelir a câmara a voar para as ruas, para o mundo que se passeia lá por fora, um mundo muito maior e mais complexo do que uma pequena história de um gangster malandro, mas com bom coração.
Hoje ver A Bout de Soufle já não é a mesma coisa. Não há a frescura da primeira vez.
Hoje não se vê um objecto revolucionário, um objecto contra o sistema. Hoje vê-se um filme do sistema. Um filme de culto, um marco da história, um filme premiado, eleito e tudo o mais. A magia inicial perdeu-se. O que nos resta? Os planos, a música inesquecível, os desempenhos, os travelling pelos Campos Elisios, enfim, tudo aquilo que fazem com que o filme seja, acima de tudo, cinema!